domingo, 23 de março de 2014

 
O perfume
Entreguei-lhe as cartas já certas da viagem a fazer, bastava apenas o seu aval. Inspirou no ar o percurso que eu havia feito desde a porta de entrada até ao balcão e fez-se rogado…aventurando-se na pergunta. Pergunta essa assente num misto de exclamação e bisbilhotice:
 - Que perfume tão bom!?
E acenou ao mesmo tempo com a cabeça como que me influenciando na minha concordância. Sai do meu aluamento de sexta-feira e despertei nas suas palavras. Estávamos num momento de cumplicidade. Aceitei-o simplesmente. Estes momentos de pura partilha dão-me mais a mim, do que horas de escuta, através de um telemóvel que toca sempre com a mesma música.
Resolvi usar do meu tempo e ser gentil com ele. Eu nem sabia bem o nome do perfume… é assim, como muitas outras coisas da minha vida que as tenho mas não sei bem como e porquê?
Na loja onde comprei o perfume diziam que seria uma “aproximação” a uma grande marca e um grande aroma. Sim era! Continuamos, e no meu há vontade abri a mala e tirei o perfume e ofereci a surpresa aos seus olhos. Todo ele se dilui-o num sorriso e as mãos estenderem-se como que a pegar na melhor invenção olfativa. O gesto foi inato…ao balcão dos CTT estávamos a partilhar um aroma, que ele fez esguichar de imediato direito ao dorso da sua mão e num breve fechar de olhos… encostou a mão ao nariz... e viu-o reconhecer e apagar-se nas flores frescas do sereno, no limão acabado de espremer e na folha da lima. Entregou-se… Estava a ser fantástico aquele momento, eu e uma pessoa que conheço faz muitos anos atrás daquele balcão, em que anos a fio, nos cumprimentamos cordialmente e naquele momento, vivamos uma cumplicidade solicitada por ele e aceite por mim. Encheu-se de coragem e concluiu que aquele perfume embora de senhora adequa-se perfeitamente aos homens. Sorri. Devolveu-me o perfume voltei arruma-lo na mala e pensei nas coisas mais espantosas que me acontecem na vida. Partilhar o meu perfume com o senhor dos CTT.

av
23.03.14