Não lhe dei tudo
Não lhe dei tudo o que me pediu,
porque achei que seria demais. Dei-lhe o espaço que precisava para caminhar
seguro e de encontro ao que era seu por direito. Deixei-o caminhar à chuva de
botas de borracha, chapinhou e fez respingar a água das poças em todas as
direcções. Andou de bicicleta de capa de chuva, completava com o balde de praia
na cabeça e na mão direita o guarda-chuva que lhe assegurava o equilíbrio
perfeito. As pestanas seguravam os pingos da água persistente e pestaneava para
limpar a visão. Disse-lhe que não ao muro alto, mas deixei-o ver o que estava
depois dele… o mar! Senti-o livre em cada passo escorregadio que dava para
apanhar a alga no vai e vem da maré. As pedras que apanhou e o alcance que
conseguiu ao atira-las tinham uma força desmedida. Pensei que toda a sua vida
estaria nessa distância. E está. Hoje, grande na sua visão, calado na sua
opinião, enfrenta um mundo diferente do alcance do mar que sempre viu, mete-se
nele e sente toda a sua profundidade. Sinto-lhe na distância o pensamento
perdido, o esforço por se equilibrar, o passo certinho que lhe é exigido, sem
dó nem hesitação. É assim que tem de ser. Os dias passaram rápido e no meu
pensamento contínua a delicadeza daquela mão pequenina, a presença de tudo o
que é genuíno e intacto… o sorriso limpo, o abraço apertado. Tenho de o deixar
ir… vai!
av12.08.15
Sem comentários:
Enviar um comentário