quarta-feira, 3 de agosto de 2016




Cavalo de cortesia

Quando a calçada me foge no primeiro olhar de esguelha, o “Bom dia!” sai afónico e logo se fecha. O início do dia exige-me o cumprimento da boa educação. A pessoa rotineira, o velhinho que gasta o tempo, a senhora que vai à praça e o funcionário da câmara que varre as primeiras folhas do dia. Por último o senhor “acastanhado”, que não espera tal simpatia, mas responde quase no fim. O “Bom dia” da senhora do café que já vive desde cedo, e com a novidade pronta me serve o café e pergunta se estou boa, e eu no meu adormecimento dantesco faço que não a ouso. Chega o senhor professor, que no seu tom amável, nos faz acreditar que se pode ouvir baixo. Encontra-me o olhar e faz a introdução simpática de quem vive no futuro. E no rasgar do pacote de açúcar, penso em como são belas as pessoas que me rodeiam! Cada uma com a sua nuvem, cada uma com o seu sal, e cada uma com a sua entrega. E damo-nos todos uns aos outros quando partilhamos algo, sem filtro, sem receio. Espera-me a pessoa mais forte e resistente que conheço, pessoa que amassam mas logo leveda, valente e de humor inato, faz destronar o rosto mais sério e sente-se no coração toda a sua grandiosidade. Pergunto-me se será disto que terei saudades um dia quando partir e deixar no passado o retrato emoldurado, de um bocadinho que foi a minha vida? Serei eu capaz de ver ao longe um pedaço de terra, cheio ele de tudo o que há em mim. Rocha, mar e verde. Com certeza que sim. Acredito que sim!
av
03.08.16