Cavalo
de cortesia
Quando
a calçada me foge no primeiro olhar de esguelha, o “Bom dia!” sai afónico e
logo se fecha. O início do dia exige-me o cumprimento da boa educação. A pessoa
rotineira, o velhinho que gasta o tempo, a senhora que vai à praça e o
funcionário da câmara que varre as primeiras folhas do dia. Por último o senhor
“acastanhado”, que não espera tal simpatia, mas responde quase no fim. O “Bom
dia” da senhora do café que já vive desde cedo, e com a novidade pronta me
serve o café e pergunta se estou boa, e eu no meu adormecimento dantesco faço que não a
ouso. Chega o senhor professor, que no seu tom amável, nos faz acreditar que se
pode ouvir baixo. Encontra-me o olhar e faz a introdução simpática de quem vive
no futuro. E no rasgar do pacote de açúcar, penso em como são belas as pessoas
que me rodeiam! Cada uma com a sua nuvem, cada uma com o seu sal, e cada uma
com a sua entrega. E damo-nos todos uns aos outros quando partilhamos algo, sem
filtro, sem receio. Espera-me a pessoa mais forte e resistente que conheço,
pessoa que amassam mas logo leveda, valente e de humor inato, faz destronar o
rosto mais sério e sente-se no coração toda a sua grandiosidade. Pergunto-me se
será disto que terei saudades um dia quando partir e deixar no passado o
retrato emoldurado, de um bocadinho que foi a minha vida? Serei eu capaz de ver
ao longe um pedaço de terra, cheio ele de tudo o que há em mim. Rocha, mar e
verde. Com certeza que sim. Acredito que sim!
av
03.08.16
Sem comentários:
Enviar um comentário