A
Rosa
Rosa esperava a urbana de
sacos na mão e como que descansando o peso todo do corpo numa só perna. Rosa
fala sem parar, fala de si, da tonteira que sente no juízo, das mudanças que
sente com o passar do tempo. Fala do seu médico, da medicação que toma e da
palavra depressão. Acena com a cabeça a cada problema que tem. Pobre mulher. Em
nova veio servir para casa do sr. doutor e dali foi servir para casa do marido.
Rosa não tem carinho de ninguém, nem do marido, nem do enteado…de ninguém…
O olhar de rosa pasma no
nada da sua vida…e a pausa é breve. Logo começa naquela ansia de
falar…falar…sem parar. Tenho pena da Rosa, da sua vida, do seu vazio, da filha
que já não é dela, da servidão que presta, da vassalagem que herdou da
crueldade que a vida fez com ela. Rosa já não tem esperança e os seus olhos
saem-lhe da cara no divagar da sua loucura. Rosa não teve direito à vida no seu
sentido mais brejeiro, nem de brincar da rua…e na infância merecida…não teve o
beijo nem o abraço de ninguém.
av
27.09.12
Sem comentários:
Enviar um comentário