quarta-feira, 3 de outubro de 2012


A Rosa

Rosa esperava a urbana de sacos na mão e como que descansando o peso todo do corpo numa só perna. Rosa fala sem parar, fala de si, da tonteira que sente no juízo, das mudanças que sente com o passar do tempo. Fala do seu médico, da medicação que toma e da palavra depressão. Acena com a cabeça a cada problema que tem. Pobre mulher. Em nova veio servir para casa do sr. doutor e dali foi servir para casa do marido. Rosa não tem carinho de ninguém, nem do marido, nem do enteado…de ninguém…
O olhar de rosa pasma no nada da sua vida…e a pausa é breve. Logo começa naquela ansia de falar…falar…sem parar. Tenho pena da Rosa, da sua vida, do seu vazio, da filha que já não é dela, da servidão que presta, da vassalagem que herdou da crueldade que a vida fez com ela. Rosa já não tem esperança e os seus olhos saem-lhe da cara no divagar da sua loucura. Rosa não teve direito à vida no seu sentido mais brejeiro, nem de brincar da rua…e na infância merecida…não teve o beijo nem o abraço de ninguém.

av
27.09.12

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