Elefante de berço
De cinzento feio e andar tosco,
balanceava de tão perdido que estava. Empurrado para o mundo dos predadores, em
que andar faz parte da natureza, daquele que nasce a fugir de tudo. Fugir da
trama do outro, do olhar severo, da preciosidade dos outros. Começam de
gatinhas, na curiosidade de tudo o que brilha, estendem a mão no encalço de
mais uma descoberta. Na verticalidade que o momento exige, despregam-se do
solo, e fazem estandarte de si próprios. Um segue o outro, e em breve riem dos
seus malabarismos. Na arena do circo os animais já nasceram cansados de si
mesmos, na esgueira de um olhar, veem o mesmo colorido de sempre e o barulho
ensurdecedor das palmas programadas. E no rugido de quem nunca conheceu a
savana, agacham-se mais uma vez, na tentação da carne. Findo o espetáculo, tudo
se cinge a uma grade, de ferro escamada e de castigo severo. E pela mão da mãe
vai a criança, sôfrega de tanta pergunta e de sonhos concretizados! A noite
acontece e a criança sonhou com os animais do circo que saem nos brindes dos
gelados, todos eles de sorriso largo e de porte altivo, dignos de um circo de
criança.
av
2009.10.29
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