domingo, 8 de setembro de 2013


O Verão e os Amigos

Chega o verão de sol incerto, acontece a aproximação das famílias, dos amigos e da vida bonita e tranquila. Tenho reparado nos lanches repartidos na areia da praia, nos caniços apontados ao mar, nas mantas estendidas à sombra, do cheiro a lanha adivinhando um bom petisco. Jantares com hora, mas isentos de pontualidade, abraços apertados, gargalhadas demoradas. O verão é para isso, para vermos os familiares, os amigos e fazer dos serões o recuo permanente à história do joelho esfolado numa caída de bicicleta. Os miúdos que cresceram do chão e estão maiores que os pais, já sem traços incertos, mas filhos dos seus pais, no seu sorriso, na sua expressão, na sua beleza. As casas enchem, e os jantares são de mesas grandes com manjares idealizados, desejados, esperados, saborosos. O vinho vem descomprimir o mais tímido e o bem estar reina num ápice. Sempre tive amigos ausentes, amigos que pouco ou nada sabem de mim, não conseguem distinguir um dia mau na minha vida, porque a vida deles é sempre mais importante, e eu tenho de sabê-lo, é meu dever de amiga. E quando olho de revês, para não distorcer em nada a minha imagem, sinto-os sempre ali, tão longe de mim...mas sinto-os. Regresso ao meu casulo… e ao arco daquele braço quente, que me espera todas as noites e me olha com toda atenção, e vê em mim, sombras que mais ninguém as consegue ver...e ali tenho o meu único amigo, eterno, presente, sincero… e silencioso.

Ana Vargas

2011-07-13

segunda-feira, 13 de maio de 2013


Hipnose

A senhora de 92 anos com alzheimer foi Salva pelo seu cão, eu nunca fui salva por um cão, porque a mim negaram-me o apego ao animal. De tanto pedir cansei, mas não apaguei totalmente o calor do seu corpo encostado à minha perna. Lembranças, quantas queira! Na minha infância tive um cão preto, e claro chamava-se "black", tinha os dentes desalinhados que lhe saiam pela boca, a cauda fazia um caracol , que se desfazia à primeira dúvida. Não me recordo da seu desaparecimento, é entranho mas não me lembro da sua morte…se calhar nunca morreu. Depois da procura exaustiva por um livro que me mexa e que sentido faça e se distancie do enfadonho das editoras, que de tanto inventarem histórias nas Quintas de Toscânia, já ninguém lhes reconhece qualquer encanto. Falamos, falamos por falar, que bom que assim o foi. Falamos da leitura, da "Viagem das Almas”, que através da hipnose hipoteticamente seria toda igual em qualquer ser humano, que seriamos muito iguais presentemente, sem grande diferença. Não gostei, mas aceitei, realmente a ideia que fazemos da viagem para o outro extrato, patamar, mundo, a separação da alma do corpo, para a reencarnação, a experiência torna-se igual na consequência da monotonia das vidas das pessoas, que em pouco diferem umas das outras, logo o pensamento em hipnose também se tornará ele... igual… comum a todos…a visão do túnel,  a luz ao fundo, a sensação de bem estar, o encontro com familiares que já partiram, seria mais o desejo natural de quem deixa esta vida e procura a harmonia. Desolador para quem espera um pouco mais…sem acreditar que acabou o corpo e com ele tudo que era da sua posse. Decidi hoje, vou-me apagar nos livros, fazer baloiçar a cadeira em cada paragrafo terminado, parar para inspirar, sorrir a cada frase bela e deixar-me ir…preciso de me inventar !!!
av

13.05.13

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013


Foto de verão
Saudades de uma foto de verão, daquelas que se tira encostados a um muro, com os braços a estancar o corpo, sorriso aberto que dói e com uma paisagem magnífica por trás.
Tenho a saudade de muita coisa, de momentos bons, tranquilos, de não saber o percurso do dia e descansar na interrogação.
Tenho saudades de abrir a porta e não sair… Ficar agarrada ao naperon amarelado nas pontas e encontrar todos os anos a santinha de mãos postas. No verão o cheiro da figueira distrai o cantar incessante das galinhas e ao longe ouvem-se as vozes dos da terra que recebem visitas de fora. Todos os anos era assim…era como renascer dentro da própria vida, sentir o calor quente de Agosto e ter a certeza de que a vida era longa. Agora vêem-se nos muros sinais de que o inverno foi duro, e no chão passos imaginários desenhados, através dos muros filtra-se uma luz de vida que atravessa como um raio e que no fim se funde com a saudade…
14.02.13
av

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013



O cheiro da Faia
Ao passar na canada, roço com a mão ao de leve na Faia, que brota em flores brancas miudinhas e de cheiro opulento. Sigo embrulhada naquele cheiro, que desperta em mim um sorriso que adivinha a primavera. Eu gosto é da primavera, do renascer da mente, do pólen que sobrevoa o nosso espirito, do voo com destino certo, de todo o entusiasmo de pensar que alguma coisa pode mudar nesta vida… Sinto no planar… desorientado dos pássaros, que algo está para chegar e há que preparar a festa, com tudo o que temos, com as flores coloridas, com os perfumes caros, salpicados de pétalas solitárias, tem de ser rápido!  E a vida ganha cor, magia, atitude, avanço, e em pouco tempo estamos a sobrevoar o mundo, vendo de lá de cima em forma de bola, todo o seu azul, verde, branco,  nem nos vemos, porque somos pequenos demais…vistos do espaço! 
 É na grandeza deste mundo que está a nossa pequena vida!

12.02.13
Ana