Numa Ilha
Nasci numa ilha…
é tudo o que sou, tenho o mar ao alcance de uma mão, o céu sempre presente e a
família perto para abraçar. Nunca de cá sai, sem a certeza de que voltava!
Quando estive longe olhei para trás e senti o quanto estava longe do meu chão,
chão de terra húmida, de videira de fruta e de verde único. Pensei na ausência da
certeza de caminhar ao fim da tarde a par e passo com o por do sol…chorei com
saudade e dei os primeiros passos amedrontados. Quando cheguei…Senti-me
protegida no vento que soprava, e prendi-me novamente à janela onde se cola a folha na gota que escorre. Não sei viver sem a
chuva, sem o recorte da ilha que me isola e o adeus de quem parte. Sou tudo o
que me ensinou a mão grossa do meu pai, grande, áspera e firme. Brinquei
sozinha, no perigo da altura, trepei árvores e comi a fruta do vizinho. Fui o
rapaz quando foi preciso e senti o cheiro a tinta de cada risca do barco
pintada com precisão. Sou de cheiros, de lima, de flor de faia, de pão quente,
de bolo de laranja húmido. Apanhei o escaldão do sol da infância e descasquei a
pele como se a minha vida se renovasse naquele momento. Fui capaz de tudo e a
vida não me negou um só momento. Fui sem saber que o era, feliz e livre de mim,
imatura, inconsequente, inerte, teimosa, fui…tudo!
15.08.12
av
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