domingo, 19 de agosto de 2012


O Barco


Devia existir um barco pronto a partir...encostado ao cais... para todos aqueles que no dia certo resolvem deixar tudo e partir. Um barco destes não é fácil de fazer partir, todos os que por momentos sentem esta vontade, muitas vezes não tem coragem de saltar, sem dia nem hora de chegada. E olhando em redor, vêem-se olhos raiados de vermelho, sem brilho, parados no tempo e nas batidas do coração. Tenho pena de quem não espera muito mais de si. Eu também já senti o meu coração parado, no quadro do menino que assiste à morte da sua própria mãe. Desolador e nefasto para quem tudo teve e nunca precisou de partir nesse barco. Já vi partir, alguém que me era muito querido, de olhar soberbo, de visão alargada e de objetivo múltiplo. Empurrei, e ofereci-lhe todas as minhas reservas para que o sucesso dele fosse uma certeza. Senti a sua ausência, o seu toque, o seu cheiro...e os meus sentidos ficaram de luto. Foi uma falta inconsolável, amordaçada, disfarçada e de visão nula mesmo à lupa. Ninguém viu que a minha alma se retalhava de tão porosa que estava. Vi o barco partir e deixei…mas não embarquei nele! Talvez um dia!


19.08.12

av

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