Ser mau é bom
Toda a minha vida me pautei pelo que observei e pelos
exemplos que tive como conduta moral, vi um pai que trabalhou exaustivamente, abafando
com a mão o toque do despertador, nunca falhou a uma escala dos muitos aviões,
tendo mil e uma funções no seu trabalho, vivendo em constante espiral, entre o
que pensava (sonhava) e os filhos que o esperavam à mesa. Lembro-me de ir ao
seu encontro, nos dias maçadores do PBX e em momento nenhum era esquecido o
hastear da bandeira. Tudo era feito com o sentido da responsabilidade e o
trabalho era uma dádiva que merecia respeito. Admirava-o… a minha mãe em casa
começava o dia à mesma hora, as hortaliças frescas da praça já estavam lavadas
e faziam a sopa simples, que todos comiam e ninguém dizia que não gostava. Não
quero com isto parecer que fiquei naquele tempo e que não vejo nada de bom no
presente, mas fico chocada todos os dias com o rumo do meu país.
Deparo-me todos os dias com faltas de respeito, lixo no chão,
esta coisa estranha de ficar transparente nas passadeiras, de me levarem o ombro
e a mala atrás de si quando teimam em não dividir o passeio comigo. Esta moda
de não se olhar as pessoas nos olhos… Esta coisa feia de se falar ao telemóvel a
toda a hora, em que a vida das pessoas é soprada para o ar sem pudor e sem
reservas. Porque raio é que eu tenho de saber da vida delas? Esta queixa
constante de falta de trabalho, e o que eu mais vejo é malandrice disfarçada.
Tanta hipocrisia, muito teatro. Este consumismo libertino assente numa falsa
modéstia. É importante parecer que é, ter, mostrar, representar, iludir. Mais
parece um circo, em que aquele que se atrever a “pensar” será o primeiro
candidato a “domador de feras”( e na revolta do leão enjaulado, será comido). Os
que mais desiludem são os mais premiados.
Não há tempo a perder, saiu o último modelo de telemóveis da
Apple e há que comprá-lo (mesmo que não se possa). Que se lixem os valores… Na
escola os professores com certeza ensinam estas coisas…ou não!?
24.10.14
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