sábado, 17 de novembro de 2012

 
Estar desacompanhado
 
Quem me dera a mim, pegar naquele pássaro cantante, afagar-lhe as penas sentindo o seu corpo tenro e maleável...posá-lo novamente no ramo...e regressar novamente à minha casa e fechar-me nela!
av
17.11.12

domingo, 11 de novembro de 2012

 
O Chocolate

Meteu-me o braço por cima do ombro, fazendo um arco sobre mim. Na mercearia, chegávamos perto da prateleira dos chocolates e ficávamos estáticos. Os chocolates alinhados, verticais, coloridos de vários tamanhos e preços.

Retirou o braço pesado de cima do meu ombro e disse: - Qual é que queres?
E eu com os chocolates ao nível dos olhos, dei um balanço e fiquei em pontas de pés, para me certificar que não faltava aquele que eu mais gostava…apontei com o dedo e disse:

- É aquele!!!
E sorri…
 
av
09.11.12

domingo, 14 de outubro de 2012


Viver na escuridão


Deixei de ver...vivo na escuridão e a minha alma é negra!  O olfato chega longe. Tudo o que toco, é uma nuvem deserta de cor e transparente de cheia. Tenho apenas saudades dos cheiro da terra que faz eclodir um verde destilado dos maiores odores que alimentam a alma e nos transportam para o passado... trazendo consigo o que o cérebro fez por guardar intacto ao fim de anos. E no pensamento, continua o cheiro da maresia das algas expostas ao sol, ficou o cheiro a terra húmida e batida, continua o cheiro da faia que nos embala no sua doce essência do entardecer, o sal que a língua procura na prova do corpo que se torna mais saboroso, o cheiro a cocô, das tardes de praia, os pés exfoliados da areia que se infiltra e nos incomoda, o primeiro banho de mar a medo, com o frio a penetrar nos ossos, suspendendo o respirar à medida que vai subindo pelo corpo e nos para na cintura...e a mente relaxa e o sorriso aparece e os olhos focam ao longe o balançar no colo daquela ave que passa e os ouvidos reconhecem o chamamento do pássaro que teima em não se ir embora, e todos habitam no mesmo paraíso, mas nem todos o reconhecem...apenas os sábios e por demais pensadores e conhecedores das verdadeiras maravilhas que nos rodeiam, isto é amor no seu estado mais puro, é viver no seu sabor natural e é reconhecer o privilegio de viver. Por mais que viva, não conheço outra forma de viver, que não a minha...
 
av
14.02.12

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O coração
 
Cada vez me capacito mais de que o coração é um órgão autónomo, desde o seu funcionamento, ao seu modo de pensar. Acho que o coração tem cérebro e pensa por si, independentemente do próprio homem que o possui.
São os passos mais duros, que nos destroem como se fossemos um muro de pedra, pedra suspensa em cima de cada uma delas, segura, coesa, firme, embora suspensa. Dói ter que dizer não, ter que resistir, e emoldurar um pensamento, como se de uma foto de família já defunta se tratasse. Quero que se dissolva como uma aspirina em água, sem que se dilua na dor. Nada nos pode trazer de volta o que jamais pensamos que um dia possa acabar. O caminho de volta está quase apagado, embora todos os sinais de tempos passados se encontrem intactos e vincados, no entanto apagados e sensíveis aos próximos invasores. Que a vida se regue de um balsamo de aromas de um comprimento sem fim e que consigam sobrepor todas os outros que ainda ecoam no sonho. São cheiros, são momentos, palavras e respirares de tão fundos quase findos. De tão puxados quase inexistentes...mas duradouros e sentidos. Foram-se.
av
04.10.12

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

http://notaveisazores.com

Aqui fica o site dos Notáveis dos Açores, é onde se pretende registar os muitos emigrantes açorianos e seus descendentes que se notabilizaram em diversas áreas. Achei interessante.

A Rosa

Rosa esperava a urbana de sacos na mão e como que descansando o peso todo do corpo numa só perna. Rosa fala sem parar, fala de si, da tonteira que sente no juízo, das mudanças que sente com o passar do tempo. Fala do seu médico, da medicação que toma e da palavra depressão. Acena com a cabeça a cada problema que tem. Pobre mulher. Em nova veio servir para casa do sr. doutor e dali foi servir para casa do marido. Rosa não tem carinho de ninguém, nem do marido, nem do enteado…de ninguém…
O olhar de rosa pasma no nada da sua vida…e a pausa é breve. Logo começa naquela ansia de falar…falar…sem parar. Tenho pena da Rosa, da sua vida, do seu vazio, da filha que já não é dela, da servidão que presta, da vassalagem que herdou da crueldade que a vida fez com ela. Rosa já não tem esperança e os seus olhos saem-lhe da cara no divagar da sua loucura. Rosa não teve direito à vida no seu sentido mais brejeiro, nem de brincar da rua…e na infância merecida…não teve o beijo nem o abraço de ninguém.

av
27.09.12

domingo, 16 de setembro de 2012


 

Elefante de berço

De cinzento feio e andar tosco, balanceava de tão perdido que estava. Empurrado para o mundo dos predadores, em que andar faz parte da natureza, daquele que nasce a fugir de tudo. Fugir da trama do outro, do olhar severo, da preciosidade dos outros. Começam de gatinhas, na curiosidade de tudo o que brilha, estendem a mão no encalço de mais uma descoberta. Na verticalidade que o momento exige, despregam-se do solo, e fazem estandarte de si próprios. Um segue o outro, e em breve riem dos seus malabarismos. Na arena do circo os animais já nasceram cansados de si mesmos, na esgueira de um olhar, veem o mesmo colorido de sempre e o barulho ensurdecedor das palmas programadas. E no rugido de quem nunca conheceu a savana, agacham-se mais uma vez, na tentação da carne. Findo o espetáculo, tudo se cinge a uma grade, de ferro escamada e de castigo severo. E pela mão da mãe vai a criança, sôfrega de tanta pergunta e de sonhos concretizados! A noite acontece e a criança sonhou com os animais do circo que saem nos brindes dos gelados, todos eles de sorriso largo e de porte altivo, dignos de um circo de criança.

av

2009.10.29

Desenho feito pelo João quando tinha 10 anos

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Montanha da Ilha do Pico
Foto gentilmente cedida pelo meu amigo Rui Correia

 
Apenas isso...depois tudo passa, e os dias curam a tua mente, e a tua sabedoria filtra o teu pensamento e de novo a energia fermenta e o vulcão explode e renova as suas cinzas...o seu magma solidifica...dando-te piso solido para caminhares mais uma vez!
 av
11.09.12

domingo, 2 de setembro de 2012



Lanzarote

Lanzarote tem uma brisa que nos refresca permanentemente, é livre, lávica e destemida. Estar em Lanzarote é estar em casa, viver com o mar, com a natureza rude, seca, de vegetação havida de água. De beleza exótica. À noite ouvem-se um misto de línguas, existe uma mistura de alemão, inglês, italiano e o cioso espanhol. A língua espanhola soa bem ao ouvido parece música. Em Lanzarote, fazem- se coisas simples, passeia-se junto ao mar, veem-se famílias a jantar em ambiente descontraído. Em altura de férias os sorrisos são francos e os ombros descobrem-se ao sol que os procura… as praias são de areia fina e moldável, que se abre à nossa chegada. Fantástico! O mar é fresco e vem te buscar onde estás…e tu vais! Tem um horizonte a perder de vista…mar turquesa nas zonas de areia, contrastando com o negro da lava que o vulcão quis chorar.
Eu adorei Lanzarote pela sua calma, pelo seu cheiro, pela sua luz, pelos seus ventos alísios. Lanzarote ainda permanece intacta em grande parte da sua natureza, tem sido uma ilha em que os seus representantes não descoram pela atenção que lhe dão em todos os setores importantes para o desenvolvimento e sustentabilidade da própria ilha. Lanzarote vive do turismo e de toda a beleza que pode oferecer a quem o visita.

av
02.09.12
Costa Teguise
 

Arrecife

Cueva de los Verdes é um tubo de lava e atração turística das Ilhas Canárias.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012


Hoje fui…

Hoje fui, resolvi que queria mar e estar dentro dele. Acompanhei o meu filho na sua aula de vela. Não há palavras que descrevam, o amor que se sente ao vê-lo ao longe velejando ao sabor do vento e da paz…rumo ao nada…simplesmente em frente…como nós gostamos de ir. Estar no mar, numa baia lindíssima onde as casas se encaixam como legos e as cores fundem-se na harmonia do céu azul acinzentado. Há momentos únicos, olhares de ilhéu, sensações de arrepio e de deslumbre total.
av
31.08.12

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Mulher Cão - Paula Rego



A vizinha
 

Não sei o que são, não as ouço, mas penduro-me na sua ausência. Tenho sentido a solidão da amizade da vizinha, de uma forma dura, e neste momento a amizade desta vizinha poderia ser quase nula para mim. Mentiria se dissesse que não tenho sentido a falta do telefonema da vizinha, que após a introdução, fala incessantemente de tudo o que a preocupa, usando a virgula apenas para respirar. Fala do desalento da sua vida, do vazio do seu coração, da tristeza crescente e do não saber o que tem? Fala do filho, repete a história ouvida centenas de vezes, e na sua repulsa e raiva, conta novamente a historia para que nada fique por dizer. Sem conseguir ultrapassar a constatação dura de que a sua vida é vazia de conteúdo, distrai-se no vestido que comprou, sem ter o dinheiro para ele. As sugestões de uma vida melhor, não lhe entram, porque o tempo falta-lhe e não consegue arranjar 5 minutos de relaxe e pensamento egoísta. E perde-se na conversa, a opinar sobre vida dos outros e pergunta se fizeste alguma das coisas que ela queria ter feito! Desliga e guarda-se para a próxima investida. Cansada...diz-se cansada!
av
17.02.10

domingo, 19 de agosto de 2012


O Barco


Devia existir um barco pronto a partir...encostado ao cais... para todos aqueles que no dia certo resolvem deixar tudo e partir. Um barco destes não é fácil de fazer partir, todos os que por momentos sentem esta vontade, muitas vezes não tem coragem de saltar, sem dia nem hora de chegada. E olhando em redor, vêem-se olhos raiados de vermelho, sem brilho, parados no tempo e nas batidas do coração. Tenho pena de quem não espera muito mais de si. Eu também já senti o meu coração parado, no quadro do menino que assiste à morte da sua própria mãe. Desolador e nefasto para quem tudo teve e nunca precisou de partir nesse barco. Já vi partir, alguém que me era muito querido, de olhar soberbo, de visão alargada e de objetivo múltiplo. Empurrei, e ofereci-lhe todas as minhas reservas para que o sucesso dele fosse uma certeza. Senti a sua ausência, o seu toque, o seu cheiro...e os meus sentidos ficaram de luto. Foi uma falta inconsolável, amordaçada, disfarçada e de visão nula mesmo à lupa. Ninguém viu que a minha alma se retalhava de tão porosa que estava. Vi o barco partir e deixei…mas não embarquei nele! Talvez um dia!


19.08.12

av

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Numa Ilha


Nasci numa ilha… é tudo o que sou, tenho o mar ao alcance de uma mão, o céu sempre presente e a família perto para abraçar. Nunca de cá sai, sem a certeza de que voltava! Quando estive longe olhei para trás e senti o quanto estava longe do meu chão, chão de terra húmida, de videira de fruta e de verde único. Pensei na ausência da certeza de caminhar ao fim da tarde a par e passo com o por do sol…chorei com saudade e dei os primeiros passos amedrontados. Quando cheguei…Senti-me protegida no vento que soprava, e prendi-me novamente à  janela onde se cola a  folha na gota que escorre. Não sei viver sem a chuva, sem o recorte da ilha que me isola e o adeus de quem parte. Sou tudo o que me ensinou a mão grossa do meu pai, grande, áspera e firme. Brinquei sozinha, no perigo da altura, trepei árvores e comi a fruta do vizinho. Fui o rapaz quando foi preciso e senti o cheiro a tinta de cada risca do barco pintada com precisão. Sou de cheiros, de lima, de flor de faia, de pão quente, de bolo de laranja húmido. Apanhei o escaldão do sol da infância e descasquei a pele como se a minha vida se renovasse naquele momento. Fui capaz de tudo e a vida não me negou um só momento. Fui sem saber que o era, feliz e livre de mim, imatura, inconsequente, inerte, teimosa, fui…tudo!
15.08.12
av






sexta-feira, 25 de maio de 2012

Fui ver o filme de Gonçalo Tocha: “É aqui não é na Lua”, achei o filme brilhante, genuíno e muito emotivo. Adorei a sensibilidade com que foi feito o documentário, mostra essencialmente o isolamento daquelas ilhas e a forma simples de quem vive com pouco.
25.05.12
av

quinta-feira, 24 de maio de 2012


Um site com informação turística e imagens lindíssimas dos Açores. É caso para se dizer: Sinta-se vivo!
http://www.visitazores.com/pt-pt
Muros de pedra preta

 
Agora percebo…porque se sentava ele debaixo da figueira de pernas semi abertas, com o olhar parado, naquele marasmo de calor, soprando o fumo para frente e olhando o nada. Às vezes é difícil olhar o nada do instante e ficar-se no tempo aproveitando cada segundo como se a vida fosse acabar em breve. Sinto-me nessa sintonia, embora mais breve no meu olhar, mas sempre vendo o que mais ninguém quer ver comigo. Tenho saudades do chinelar das suas “slipas” velhas, eram amarelas desbotadas, já lhe faltavam bocados do uso, mas de lugar cativo naquela casa. É talvez das únicas casas sem foto de família, mas o ranger do sobrado conta os passos de várias gerações. Tempos de saltitar, de sal no corpo, de um pedaço de bolo com queijo e de peixe salgado em cima dos muros. O armário verde alface pintado com restos de tinta, entreaberto… espreitando! É a saudade que me fala assim, deste modo simples e tão presente, de aromas, cheiros e descidas cautelosas em escadas de pedra desnivelada. O quintal de rocha lávica, emoldurado de amoras negras, de faia preta, decorado com carcaças de caranguejos laranja, onde eu num só salto temia o aviso da minha mãe de que o quintal de tão perigoso, não era para mim. Na passagem sem portão, esmigalho a folha da árvore de limas, puxo o ar e fecho os olhos…cheiro verde de sumo com aroma purificante e renovador… adoro! Sempre o cheirei desde que me lembro! Este ano não fui capaz…sabia que o ia encontrar no mesmo sitio, sentado… tudo me ia fazer lembrar, as suas gargalhadas duradouras, persistentes ecoam no ar e o passado ainda está demasiado presente…
26.12.11
av

Tanto Mar

Atlântico até onde chega o olhar
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra com tanto mar
como a palavra
Açores

Manuel Alegre
Descoberta dos Açores

"A ideia que temos de um paraíso na Terra é quase sempre uma ilha. Mesmo quem vive em alguma sonha-o sempre em outra, muito longe. E nos Açores há nove, porque, como muitas outras, estas ilhas são as mais belas do Mundo. Há quem pense que já se sabia da sua existência antes de aqui chegarem portugueses, no século XV, mas essa crença tem o valor histórico de uma fábula. Nas cartas náuticas desse tempo era costume desenhar ilhas imaginárias nas lonjuras desconhecidas dos mares, dando-lhes nomes de lendas e de mistérios. Faltando muitas informações à nossa curiosidade acerca do seu descobrimento, até a carta do maiorquino Gabriel de Valsequa, feita em 1439, e que vale como certidão de nascimento do arquipélago, sofreu um borrão de tinta que ocultou parte do nome do descobridor, o qual, antes disso, o também maiorquino Pasqual interpretara, já com muita dificuldade, como sendo Diego de Guullen. (Tê-lo-á influenciado a semelhança deste nome com o de Gullén de las Casas, que foi feito senhor das Canárias em 1437?...) No entanto, e apesar de várias outras hipóteses, é geralmente aceite a opinião do historiador Damião Peres de que o descobridor dos Açores terá sido Diogo de Silves, em 1427."
Texto de Daniel de Sá